sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Quarta Feira, 5 de Outubro de 1910


Fotografia do Palácio de Mafra onde estão assinaladas a casa do Meu Bisavô e o Quarto onde o Rei dormiu a ultima noite em Portugal


Quarta-Feira, 5 de Outubro de 1910
Paço de Mafra

Noite horrivel d'anciedade! Revolução em Lisboa.
Proclamação da Republica


Á 1h. da madrugada foi El-Rei deitar-se. Deitei-o eu. Emprestei-lhe eu uma camisa de noite. Veio só com o fato que trazia vestido ( á paysana ).
Nada de noticias o que é pessimo. Com o auxilio do Vento Sul ouvem-se distintamente muitos tiros de artilharia. Agoiro mal este dia.
Toda a força da Escola Prática d'Infantaria está armada na arcada Sul.
Na galeria á porta do quarto d'El-Rei no Torreão do Sul estão os guardas da Tapada armados e alguns populares ( vide notas do fim do mez ).
Ás 3 h. a.m. vim a casa escrever estas notas e vêr a pobre Sophia que não dorme sem saber do futuro.
Ás 4 h. chega do Porto o dedicado M. Martins da Rocha. Vamos logo para junto d'El-Rei que dormia socegado. Nada de noticias. Ás 9 h. a.m. chega a Rainha D. Maria Pia com a Marqueza d'Unhão e Conde de Mesquitella. Ás 10 h. a.m. chegou a Rainha D. Amélia com a Condessa de Figueiró " .................." Maria de Menezes, Vasco Belmonte, creados, mallas, etc.
Ao meio dia o Telegraphista José Thomaz communica-me confidente que está proclamada a republica em Lisboa. Começa a confusão. Também está aqui o Karansch. Começa a ideia da fuga. Ás 3 h. p.m. chega o José Sabugosa que veio da Ericeira a cavallo a toda a brida. Diz que está ali o Y. R. "Amélia" com o Principe Real D. Affonso. Partem todos em trés automoveis para a Ericeira. Sophia doente rodeada de crianças. Que desespero! Coitadinho do Rei e das Rainhas! Fui logo tratar de fazer sahir a familia e bagagens do Palacio.
Dia formozissimo contrastando com a minha afflição. (vide notas do fim do mez)


Página do Diário de 5 de Outubro de 1910

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Terça-Feira, 4 de Outubro de 1910

Terça-Feira, 4 de Outubro de 1910
Paço de Mafra

Os meus pequenos é que serviram à mesa o Rei e a Rainha

Dormi mal. Logo de manhã veio o barbeiro dizer-me que tinham assassinado o Bombarda em Lisboa - Professor Miguel Bombarda. Á hora da chegada da diligencia vi no Diario de Noticias que era verdade, e que rebentara uma revolução em Lisboa com caracter republicano. Já no Sabbado andava tudo no ar por causa da chegada do Presidente Hermes da Fonseca, da Republica Brazileira.
De tarde fui á Igreja Nova com as pequenas, sobrinhas, e Carola.
Quando eu ali estava em casa do José Maria Camilla appareceu o Joaquim Bragança chamando-me da parte d'El-Rei que estava em Mafra. Tinha chegado ás 4 h. p.m. em automovel com o Conde de Sabugosa, Conde de S. Lourenço, e Marquez de Faial. El-Rei tinha sahido do Paço das Necessidades que estava sendo bombardeado. Vinha pálido. De minha casa foi comida para Elle (1)Coitadinho! Á noite chegou a Rainha Dona Amélia com Vasco Belmonte e Maria de Menezes. Vinha com cara feroz e trazia um decreto ........... para o filho assignar. El-Rei dormia, mas a Mãe accordou-o!!! Depois comeu e partiu para Cintra com o decreto assignado...............
Ás 9 1/2 chegaram João Caldeira e António Waddington. Vieram de carruagem. Ás 11 1/2 veio um telegramma do Presidente do Conselho com melhores noticias. Vim para casa escrever estas notas. Preocupa-me a presença da minha familia.

(1) Este episódio não está contado no diário mas numa carta. Houveram uns creados do Paço de Mafra que se revoltaram. Meu Bisavô chamou os guardas e mandou prender estes revolucionários. Perante a situação de não haver quem cozinhasse para El-Rei e para a Rainha e não haver quem servisse á mesa, o jantar foi cozinhado pelo cozinheiro do meu Bisavô no seu apartamento do Paço de Mafra, e foi servido pelos 4 filhos (meu avô inclusive e que muitas vezes me contou este episódio.
JTMB





Página do Diário de 4 de Outubro de 1910

sábado, 10 de julho de 2010

Segunda-Feira, 3 de Outubro de 1910

Segunda-Feira, 3 de Outubro de 1910
Paço de Mafra

Levantei-me cedissimo: ás 4 1/2 estava de pé. Os rapazes foram logo para a Tapada.
Ás 10 h. tudo de burricada para o Valle de Camões onde se almoçou ao meio dia. Foi toda a familia menos a Sophia. Estado Menor : David, Evaristo, Joaquim Abylio com o filho Joaquim, Gabriela, e o creado Fernando.
Os rapazes, como sempre, insoburdinaram-se, o que sempre me afflige.
De tarde fui aos terraços altos com a Carola, Mary, Luz e Evaristo.
Tarde de ventaneira, mas bonita.
Cancei-me deveras no passeio. Não ando bom. Ando sobretudo preocupado com a politica do Paiz.
Estamos concerteza em vesperas de graves acontecimentos. No Sabbado em Lisboa tive más noticias pela minha gente do Hospital.


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Para situar melhor os leitores ( se é que este blogue tem mais que um) e para poderem melhor identificar os personagens vou expplicar alguns dos nomes que aparecem neste relatos:

Sophia - Sophia de Carvalho Burnay ( minha Bisavó )

Filhos do Conde de Mafra :

- Francisco Burnay de Mello Breyner ( Xico ) casou com Maria Antónia Plácido
- Henrique Gonçalo Burnay de Mello Breyner - casou com Julia de Castello Branco Castro e Almeida
- José Thomaz Burnay de Mello Breyner ( meu avô) - Casou com Leonor Correia de Sá Pinto Leite
- Maria Amélia Burnay de Mello Breyner ( Mary ) - Casou com João Henrique Andressen é a Mãe da Sofia de Mello Breyner Andressen
- Tereza Josefa Burnay de Mello Breyner - Casou com Eduardo de Mascarenhas Valdez Pinto da Cunha ( avó da Maria João Avillez, Maria José Nogueira Pinto)
- Maria da Luz Burnay de Mello Breyner - Casou com D. Bernardo Manuel de Vasconcellos e Sousa 8º Marquês de Castello Melhor ( morreu com 34 anos tendo deixado orfãos 10 filhos)
- António Thomaz Burnay de Mello Breyner - Casou com 1º com Eunice Correia da Costa de Serpa Pinto e 2º com Amélia Leitão de Azevedo
- Maria da Conceição Burnay de Mello Breyner ( Tatão )casou com Francisco Freire Cabral de Metelo Pacheco
- Isabel Maria Burnay de Mello Breyner casou com João Henrique do Cazal Ribeiro Ulrich e após enviuvar com Francisco de Paula de Sousa Faria Girão

Domingo, 2 de Outubro de 1910

Domingo, 2 de Outubro de 1910
Paço de Mafra

Levantei-me cedo e fui à Praça com as pequenas. Fui com a Sophia e mais familia à missa das 11 h.
De tarde levei a Mary, Thereza, Luz, Carole Kruz, Emilinha e Annica ao forte do Juncal e d'ali á horta pelo Forno da Cal.
Na horta estavam dois automoveis com gente de Cintra e da Ericeira. (Pereiras, van Zeller, Carnide, Abrantes, etc).
Jantar ás 7 h. - dia bonito
Morreu no dia 29 passado em Poitou o Professor de Medecina Fulgence Raymond que substitui Charcot e que sempre foi amavel comigo. R.I.P. Vi-o em Paris em Junho de 1909. Convidou-me para Jantar

Sabbado 1 de Outubro de 1910

Sabbado 1 de Outubro de 1910
Paço de Mafra

Ás 8 1/2 fui para Lisboa com a Therezinha. Fomos a casa levar roseiras, violetas, e heras de cá. Ás heras plantei-as eu logo com a Therezinha junto à escada que sobe do jardim para a casa de jantar. Almoçamos no Hotel Central. Convidei o Visconde d'Asseca para almoçar comigo.
Da 1 1/2 ás 3 1/2 consultório. Fui também ver uma rapariga dos Telephones chamada Ilda do Nascimento. Tem febre typhoide e não está nada bem. Faz-me a maior pena. Coitadinha. Deus a salve.
Ás 4 1/4 voltámos. Foi a Sophia á estação de Mafra buscar-nos com a Mary e Tatão.
Dia bonito. Em Lisboa quente.
Depois do jantar fui com a Thereza, Carola e Luz a casa da prima Margarida Telles onde jantaram a Mary e Tatão. Tinha chegado ali a minha prima Mariana da Camara de Castro, irmã mais nova de meu cunhado João e viuva do Manuel de Castro ( Côvo) Veio com ella o filho Sebastião que é delegado em Villa Viçosa.
Em Lisboa uma grande malta á espera do Hermes da Fonseca.
Temos chinfrim qualquer dia não muito distante

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Bem Vindos

A exemplo do que fiz no centenário da Republica tenciono transcrever para aqui a descrição dos ultimos dias da Monarquia e dos primeiros dias da republica retirados do Diário do meu Bisavô, e escritos tal como ele os viu.

Sou e serei sempre Monarquico pois acho que é o melhor regime para qualquer País. Em 5 de Outubro de 1910 fizemos em minha opinião o maior disparate da nossa história, mas como diz Alexandre Herculano, " se um dia despedirem os Reis, hão-de voltar a chamá-los" Espero sinceramente ver esse dia.

Dedico este blogue à Familia Real Portuguesa